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Yoga: uma breve Aprresentação

Yoga: uma breve Aprresentação

avatarpor Diego Cerqueira Rodrigues data 20/02/2015

Yoga, uma pequena palavra que contém em si um universo. O termo Yoga deriva da raiz sânscrita yuj, que significa, originalmente, ‘jungir’, ‘ligar’, ‘atar’. A partir disso, utilizam-se os conceitos de “união”, ou mesmo “integração” como traduções possíveis para o termo. Esta integração que a palavra Yoga propõe está relacionada a um estado de plenitude e equilíbrio, no qual ocorre a harmonização de diversos aspectos constituintes do indivíduo, inclusive a união entre a consciência individual (jivatman) e a consciência cósmica (Paramatman).

O sábio Patanjali, a maior autoridade histórica no campo do Yoga, apresentou a seguinte definição:

Yogaś citta vṛtti nirodhaḥ

Yoga é a inibição das modificações da mente.

Y.S. I-2 (apud Taimni, 2011)

           

A partir desta definição, podemos entender o Yoga como um estado de consciência, no qual a mente do indivíduo se apresenta em uma condição muito peculiar de estabilidade, clareza e lucidez. Este estágio foi definido por Patanjali como samadhi, que conduz o praticante ao objetivo final do Yoga, a libertação (mokṣa).

 

Desta forma, podemos entender o Yoga, simultaneamente, como um meio e um fim em si mesmo. Ou seja, através de diversas estratégias – essencialmente alinhadas com o real propósito do Yoga – desenvolvidas ao longo de milhares de anos para apoiar os praticantes a atingir a libertação, trilha-se o caminho de desenvolvimento desta meta final.

Atualmente, o Yoga se apresenta como um fenômeno extremamente multifacetado, pois em sua trajetória ao longo dos anos se aproximou, em alguma medida, de diversas áreas do conhecimento, sendo recorrentemente associado à:

 

Filosofia: enquanto sistema de estudos relacionados à existência humana;

Cultura: enquanto um sistema complexo que abrange o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, e todos os costumes adquiridos pelo individuo enquanto membro de uma determinada sociedade;

Ciência: enquanto prática sistematizada de pesquisa investigatória a fim de comprovar e ampliar determinada visão de mundo;

Terapia: enquanto conjunto de procedimentos que visam à saúde e o equilíbrio geral de um indivíduo;

Religião: enquanto caminho espiritual que propõe a religação do indivíduo com Deus;

 

De fato, o Yoga apresenta características que permitem observá-lo e aplicá-lo sob esses diferentes pontos de vista. Porém, é importante ressaltar que o Yoga, em essência, não nasceu com a função instrumental de acumular conhecimento e experiências, ou para comprovar benefícios para saúde, ou mesmo para se manifestar enquanto religião institucionalizada. Deve-se lembrar de que o Yoga surgiu como um caminho de conscientização e aprimoramento pessoal, com a finalidade de libertar o praticante da ignorância, da ilusão e dos condicionamentos adquiridos ao longo de sua existência. Os benefícios que surgem através da prática coerente e sistematizada do Yoga são apenas consequências do processo rumo a essa meta final.

Portanto, é válido estudar e praticar o Yoga sob diferentes perspectivas com a intenção de vivenciar a sua totalidade. Porém, é muito delicado enquadrar e fixar o Yoga dentro de uma determinada categoria do conhecimento, pois desta forma estaríamos subjugando e limitando todo o seu potencial.

 

Um breve resumo histórico

A origem da prática denominada Yoga parece, de fato, perder-se na noite dos tempos. Um sinete de barro cozido encontrado nas escavações arqueológicas no vale do rio Indo – atual Paquistão -, no início deste século, apresenta uma curiosa figura sentada em padmāsana (“postura de lótus”), posição característica do Yoga, trajando uma pele de tigre e cercada de animais. O sinete apresenta notável semelhança com algumas apresentações contemporâneas do deus Śiva, arquétipo do yogin (praticante de Yoga) e divindade tutelar do Yoga. (GULMINI. 2006, p.25)

 

Este artefato foi produzido por volta do ano 3000 a.C., onde floresceu a civilização mais desenvolvida do mundo à época. É muito provável que o Yoga já existisse antes disso. Porém, é apenas no final dos Vedas (conjunto de hinos sagrados, datados de aproximadamente 1.500 a.C.) e, mais precisamente, nos Upaniṣads - textos produzidos principalmente por ascetas que se retiravam da sociedade e buscavam formas de compreender os segredos da vida e da morte (que começam a ser escritos por volta de 800 a.C.) - que então é iniciado os registros do Yoga enquanto conhecimento formalmente transmitido.

 

Na Bhagavad-Gitā (uma das escrituras fundamentais do Hinduísmo, escrita em torno de 400 a.C.), o Yoga começa a ganhar evidência, principalmente nas formas de karmayoga (yoga da ação), bhaktiyoga (yoga da devoção), jñānayoga (yoga do conhecimento) e dhyānayoga (yoga da meditação) (GULMINI, 2002).

 

É através do Yoga Sutras (obra atribuída ao sábio Patañjali, escrita por volta de 200 a.C.) que, finalmente, o Yoga recebe a sua primeira grande sistematização. O texto é composto por 195 aforismos (sentenças breves e conceituosas) e dividido em quatro capítulos: Samāadhi Pāada, Sādhana Pāda, Vibhūti Pāda e Kaivalya Pāda. Este conjunto propõe um caminho que, se seguido fielmente, conduziria o praticante de Yoga à libertação do sofrimento e à união com o divino. Na literatura contemporânea, existe uma extensa quantidade de obras relacionadas aos conhecimentos do Yoga. Entretanto, é possível afirmar que grande parte dos estudos comprometidos com a essência do Yoga possuem suas origens (mesmo que indiretamente) nesta obra fundamental.

 

Posteriormente, a partir dos primeiros séculos depois de Cristo, o Yoga recebeu a importante contribuição de um movimento cultural conhecido como Tantrismo, que preconizava a ressignificação da existência mundana, enquanto oportunidade de crescimento. Neste sentido, o corpo também recebe uma valorização especial, na medida em que é considerado o “templo da alma”, sendo assim visto como sagrado e merecedor de reverência e cuidado.

É neste contexto que surge o Hatha Yoga, que propõe um caminho de purificação e fortalecimento do corpo, através de técnicas físicas que, gradualmente, tornam o praticante apto a vivenciar experiências mais sutis, relacionadas à meditação e à transcendência (ELIADE, 2012).

 

Os principais tratados do Hatha Yoga são:

Hatha Yoga Pradipika (Sec. XV)

Gheranda Samhita (Sec. XVII)

Shiva Samhita (Sec. XVII)

 

A característica destas obras é apresentar de forma sistematizada as técnicas do Hatha Yoga, no qual a ascensão espiritual é conquistada através da experiência corporal. Diferentemente do que acontece no Yoga Sutras, em que os conceitos de asana (posturas) e pranayama (técnicas respiratórias) aparecem de forma muito breve e concisa, os tratados do Hatha Yoga realizam uma ampla descrição das técnicas físicas, entre elas estão: os kriyas (purificações), os mudras (selos ou gestos simbólicos), os bandhas (travas ou neurocontrações sutis), além, é claro, de uma detalhada gama de posturas, técnicas respiratórias e processos meditativos.

 

Assim, é importante ressaltar que a maioria das práticas contemporâneas que observamos hoje em dia, principalmente no ocidente, está fundamentada e estruturada a partir do Hatha Yoga. Porém, para que tais práticas corporais possam fazer jus ao nome “Yoga”, é importante que elas estejam alinhadas com a essência e os princípios desta tradição milenar.

 

 

* Nota: as datas utilizadas neste texto são apenas uma referência histórica, pois é impossível afirmar com precisão o momento correto de cada fato histórico dentro da trajetória do Yoga.

 

Referências

 

Eliade, Mircea. Yoga: Imortalidade e Liberdade. São Paulo: Palas Athena, 2012.

 

GULMINI, L.C. O Yogasûtra, de Patañjali: tradução e análise da obra, à luz de seus fundamentos contextuais, intertextuais e linguísticos. 455 p. Dissertação de Mestrado – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2002.

 

SOUTO, A. A Essência do Hatha Yoga. São Paulo: Phorte, 2009.

 

TAIMNI, I.K. A Ciência do Yoga. Comentários sobre os Yoga Sutras de Patanjali à Luz do Pensamento Moderno. Brasília: Teosófica, 2011.

 

ZIMMER, H. R. Filosofias da Índia.  São Paulo: Palas Athena, 2008.

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