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A Trava Ascendente

A Trava Ascendente

avatarpor Gerson D'Addio data 03/08/2015

Trata-se de uma técnica classificada como uma das travas (Bandhas), podendo estes ser estudados muito além das ações musculares, havendo efeitos fisiológicos e aplicações terapêuticas que vale a pena mencionar.

Dentre esses “exercícios”, um dos mais importantes é o Uddiyana bandha (pressão da parede abdominal contra a coluna, elevação ao máximo o diafragma), muito valorizado nos textos clássicos do Hatha Yoga, tais como o Hatha Pradipika e o Gheranda Samhita.

 

São costumeiras certas fantasias com relação aos aspectos práticos ou efeitos do Uddiyana, tais como a idéia de que se trata de uma prática sofisticada acessível apenas aos praticantes de Yoga bem treinados, ou à crença de que se está vivenciando o “despertar” da kundalini ao executá-lo.

 

O Uddiyana é muito simples e pode ser praticado por crianças de modo espontâneo. “Percebi isso há cerca de dois anos, quando trocava as fraldas de meu filho e me dei conta que ele succionava o abdome no momento em que estava deitado no trocador”.

Ele fazia Uddiyana sem ter recebido nenhuma instrução.

 

Naquela época eu dava aulas de movimentos para crianças de 2 a 4 anos e resolvi verificar se elas também eram capazes de fazer o mesmo, sem explicar-lhes nada, apenas pedi que me imitassem e várias fizeram Uddiyana sem nenhuma instrução, além da demonstração visual.

 

O professor Marcos Rojo teve experiência semelhante no Hospital das Clinicas, quando ao pesquisar crianças com distrofias musculares lhes ensinou Uddiyana bandha, agnisara (purificações por meio de contrações diafragmático-abdominais) e kapalabhati(respiração do crânio brilhante).

 

Os pais dessas crianças também eram instruídos na intenção de ajudar os filhos, mas no final das contas, mesmo com severos problemas neuromusculares, as crianças aprendiam as técnicas com relativa facilidade e o mesmo não acontecia com os pais.

 

Esses dados reforçam uma importante tese: a de que nascemos sabendo utilizar os músculos respiratórios de modo apropriado, e, com o condicionamento e tensões a que vamos sendo submetidos ao longo da vida, perdemos progressivamente a capacidade de bem utilizá-los. Perdendo assim a capacidade de “brincar com o próprio corpo”.

 

O Yoga não nos propõe necessariamente caminhos difíceis e tortuosos, mas muitas vezes trata-se apenas de uma redescoberta de nossas reais potencialidades inatas perdidas em algum momento da vida e reaprendidas com a prática.

Não seria este também o caso de inúmeros ásanas que fazíamos espontaneamente quando crianças, tais como a postura invertida?

 

Músculos respiratórios

Quais são esses músculos e de como podemos utilizá-los ao respirar, a fim de analisarmos as ações musculares no Uddiyana bandha.

Lembre que as inspirações são comumente frutos de ações musculares dos músculos respiratórios, mas as expirações ordinariamente não dependem de nenhuma ação muscular, ocorrendo pelo simples relaxamento destes, em função da retratilidade da caixa torácica. Contudo, quando fazemos expirações forçadas ou profundas, utilizamos os músculos expiratórios.

 

Os principais músculos inspiratórios são:

Diafragma – localizado como uma cúpula entre o tórax e o abdome, ao se contrair abaixa comprimindo os órgãos abdominais contra as paredes do abdome, levando a barriga a uma expansão.

Intercostais externos – localizados mais superficialmente entre as costelas, expandem a caixa torácica para os lados e antero- posteriormente, como se fosse uma gaiola articulada. Embora haja polêmicas quanto à ação desses músculos, é comum os anatomistas e cinesiologistas defenderem que os intercostais externos são predominantemente inspiratórios.

Escalenos – conectados com a região cervical ou pescoço puxam as costelas superiores e as clavículas para o alto, expandindo a caixa torácica para cima.

Os principais músculos expiratórios são:

Abdominais – são vários: reto, oblíquos, transverso e, em conjunto, formam as paredes do abdome. Quando se contraem, comprimem o abdome e empurram o diafragma para cima, auxiliando na expulsão do ar a partir da base dos pulmões, como ocorre em Kapalabhati.

Intercostais internos – localizados mais profundamente entre as costelas, podem ter função inspiratória, mas são predominantemente expiratórios, contribuindo para retrair a caixa torácica além da sua posição neutra.

A partir dessa descrição dos músculos respiratórios, podemos entender melhor o que ocorre em Uddiyana bandha.

Num primeiro momento, o praticante deve expulsar o ar usando os músculos expiratórios para aprofundar a expiração e, no final desta, provavelmente o abdome e ou intercostais internos estarão contraídos. Esses músculos impedem a expansão do tórax, sendo antagonistas nesta ação, mas para fazer Uddiyana será necessário expandir a caixa torácica, logo, podemos concluir que uma boa técnica depende principalmente do relaxamento do abdome.

Se o abdome não relaxar, ele resistirá à expansão do tórax e, consequentemente, à sua própria sucção.

 

Assim, fica claro que Uddiyana bandha não pode ser classificado como uma contração do abdome. O abdome neste caso sofre uma retração passiva, pelas diferenças de pressão geradas no interior do tronco.

Para se obter esses efeitos, é preciso acionar os músculos intercostais, levando a caixa torácica a uma expansão, tal como ocorre quando inspiramos. Neste caso, porém, fechamos a glote, impedindo a entrada do ar. Se o tórax se expande sem que o ar entre, a pressão intratorácica cai, levando a sucção do diafragma para cima. Logo, fica claro que também o diafragma não é ativo na execução do Uddiyana, afinal, quando se contrai, o diafragma desce, mas nesse caso ele sobe, sendo alongado. Os músculos ativos ou agonistas no Uddiyana bandha são principalmente os intercostais, podendo também haver a ação de outros músculos superiores do tronco.

 

O aperfeiçoamento desse exercício leva a sucções cada vez mais profundas e eficazes, cujos efeitos são literalmente viscerais, ao alongar os órgãos abdominais e influenciar a circulação nos mesmos. Segundo Kuvalayananda, o criador do Yoga científico, Uddiyana tem valor terapêutico em casos de constipação, dispepsia e problemas hepáticos. Kuvalayananda, seguido dos estudiosos de Yoga Bhole e Karambelkar, confirmaram que Uddiyana é o principal procedimento que induz a sucção de água para purificar o intestino grosso na técnica do basti, tendo esta um valor terapêutico ainda maior em casos de constipação e na prevenção de problemas como câncer de cólon e síndrome de cólon irritável.

Marcos Rojo e colaboradores verificaram que Uddiyana bandha associado a outras técnicas respiratórias, pode melhorar o prognóstico respiratório de pacientes com distrofia muscular. Além desses dados oriundos de estudos criteriosos, podemos supor que Uddiyana beneficie a circulação venosa e linfática abdominal, bem como a postura, principalmente no nível lombar da coluna, havendo, contudo necessidades de investigações científicas para confirmar essas suposições.

Há também cuidados específicos a tomar quando se pratica ou se ensina essa prática. Bhole e Karambelkar verificaram que o ritmo cardíaco e a pressão arterial podem oscilar muito e de modo imprevisível nas práticas de Uddiyana.

 

É possível que praticantes experientes consigam reduzir a frequencia cardíaca e a pressão arterial com essa técnica, como fora constatado por Anand e colaboradores, mas iniciantes tendem a fazer esforço demasiado associado à pausa pós-expiratória prolongada, o que pode ser arriscado para pessoas com problemas cardiovasculares, tais como os hipertensos. Devemos observar também com atenção pessoas que apresentam refluxos gastresofágicos e hérnia de hiato, já que os especialistas podem ter opiniões contraditórias sobre os efeitos do Uddiyana nesses casos.

 

 

Artigo publicado originalmente na Prana Yoga Journal / janeiro – 2010

 

 

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