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Corpo: laboratório do brincar

Corpo: laboratório do brincar

avatarpor Diego Cerqueira Rodrigues data 02/08/2016

Acredito que o desejo de praticamente todas as mães e todos os pais é verem suas/seus filhas(os) felizes e saudáveis.

A ideia central deste artigo é propor uma reflexão sobre como realizar este desejo de forma a contemplar respeitosamente e amorosamente as reais necessidades das crianças.

Atingir a realização plena deste desejo pode ser um processo repleto de simplicidade e leveza. Porém, isso não quer dizer que não seja necessário um bom grau de empenho por parte dos adultos. Ou melhor, mais do que empenho. Há dois aspectos que considero essenciais para se vivenciar verdadeiramente este processo: disposição amorosa e tempo de qualidade;

Bom, antes de continuar com este pensamento, vou realizar um panorama geral do que eu tenho observado atualmente, com relação ao processo educativo ao qual as nossas crianças estão expostas, tanto em casa, quanto no ambiente escolar.

Sabe aquela expressão que, num passado não muito distante, utilizávamos: "devemos viver o presente como uma criança o vive"?

Pois é, acredito que ela está deixando de ser verdadeira...
Infelizmente estamos vendo crescer exponencialmente o número de crianças dispersas e ansiosas. No meu entendimento muito desse quadro é devido ao bombardeio de estímulos e informações desnecessárias, além, é claro, do excesso de tarefas direcionadas.

 Me pergunto: que tempo estas crianças têm para serem crianças?

Outro aspecto gravíssimo que tenho percebido é o que está sendo chamado de "analfabetismo corporal". Ou seja, o corpo, que deveria ser uma espécie de laboratório do brincar, está se tornando um corpo estranho.

A criança não pode correr, pular, se pendurar, pois ela corre o sério risco de tropeçar, cair, se sujar...

Em casa ela ouve “não” o tempo todo, pois o ambiente não está preparado para que ela possa se expressar e se desenvolver.

Assim, a ‘brilhante’ estratégia, utilizada por muitos pais hoje em dia, é presentear o(a)s pequeno(a)s, cada vez mais cedo, com vídeo games, tablets, smartphones, etc...

Obviamente a criança, que não tem culpa de nada, passará horas a fio entretida com estas ferramentas viciantes e muito provavelmente será orgulhosamente rotulada com o título de gênio precoce da tecnologia.

Outra tática comum utilizada para “sossegar e distrair” as crianças é colocá-las em frente a TVs que estarão estrategicamente distribuídas por diversos ambientes da casa. Ou seja, a criançada que, muitas vezes já passou o dia todo na escola, chega em casa e, ao invés de interagir e brincar com os pais, interage com este objeto que irá vomitar mais uma enxurrada de informações no cérebro destas crianças (e eu não vou nem entrar na discussão sobre a qualidade das informações transmitidas pela TV).

E assim se desenvolvem crianças perdidas e amortecidas, oscilando de forma nociva entre a apatia e a agitação exacerbada.

E assim estas crianças são inocentementes diagnosticadas com algum distúrbio psicofísico.

E assim são utilizados medicamentos fortíssimos numa tentativa dramática de restabelecer o equilíbrio natural que se perdeu devido a uma vida desequilibrada.

Cenário assustador, não?

Gente, não é necessário ser um especialista em educação para perceber o quanto as crianças necessitam do corpo/movimento/brincadeiras para se expressarem e criarem situações de aprendizagem. O desenvolvimento da linguagem corporal é fundamental para que a criançada possa se conhecer e conhecer o mundo ao seu redor. Trata-se de um processo de autoconhecimento, no qual a gestualidade e o brincar se tornam instrumentos preciosos, desencadeadores de uma série de experiências e aprendizados significativos.

Se em casa a coisa não anda muito boa, o que tenho visto na maior parte das escolas também não é nada animador ...

Parece que o objetivo escolar se restringiu a preparar as crianças para o vestibular, para o mercado, enfim, para uma sociedade hostil e competitiva. E o pior: quanto antes melhor!

Obviamente que, para dar conta desta árdua missão, são necessárias longas horas de imobilidade em cadeiras perfiladas, num processo unilateral de transmissão de informações de relevância questionável. O corpo, sedento por liberdade, fica ali confinado, impossibilitado de expressar plenamente a criatividade do universo infantil.

É claro que em meio a este cenário sombrio existem muitos pontos de luz na forma de pais e educadores amorosos e comprometidos verdadeiramente com a educação. Neste contexto positivo, as crianças são respeitadas em sua essência e são incentivadas a desenvolverem autonomia em diversas atividades do cotidiano, principalmente no brincar! Através da gestualidade lúdica a criança adquire confiança, se apropria do próprio corpo e desenvolve novas habilidades e conhecimentos que se apresentarão no nível motor, cognitivo e psicossocial. É válido lembrar que, muito provavelmente, este processo criará algumas “marcas” nos corpos destas crianças, e não estou falando aqui de suor, sujeira ou possíveis cicatrizes, mas sim, de marcas que irão fazer referência a um corpo saudável, forte, consciente e cheio de histórias pra contar.

Neste sentido, voltamos à ideia central deste artigo, dois aspectos fundamentais são necessários para desconstruir alguns paradigmas e realizar o desejo de vermos nossos filhos saudáveis e felizes...

Disposição amorosa:

O amor é visto aqui como uma fonte de combustível renovável e ilimitado que abastece a nossa disposição em realizar aquilo que realmente irá contribuir à vida. Com este combustível maravilhoso já presenciei a realização de verdadeiros milagres em benefício de uma criança.  Quando nos colocamos a serviço através do amor encontramos energia que não imaginávamos possuir para doá-la de forma incondicional a outro ser.

Para fortalecer esta disposição talvez seja necessário realizar uma reavaliação de prioridades. Isto irá contribuir para aumentar a dedicação ao que realmente importa.

Tempo de Qualidade:

Dizem por aí que “o melhor presente que você pode dar ao seu/sua filho(a) se chama tempo.” Nesta sociedade, na qual o tempo tem se tornado um artigo cada vez mais escasso, pode ser um grande sacrifício dar um presente como esse. Neste caso, sugiro novamente a reavaliação de prioridades. Não é necessário abdicar totalmente a vida profissional, porém, é importante buscar um equilíbrio que atenda as necessidades de todos os envolvidos. Obviamente, o tempo de qualidade a que me refiro aqui, deve ser acompanhado de uma presença de qualidade, ou seja, não adianta estar fisicamente com a criança e com a atenção voltada para outras coisas...

Ao estarem abastecidos de disposição amorosa e tempo de qualidade, é muito provável que vocês vivenciem momentos incríveis na companhia das crianças. Olhares, sorrisos, beijos, abraços, enfim, experiências que dinheiro algum pode comprar.

E se você necessita de um bom incentivo para fortalecer os aspectos essenciais que eu expus aqui, proponho um “exercício” muito simples: observe uma criança brincando livremente, explorando as possibilidades do corpo lúdico, suas limitações e potencialidades! Trata-se de uma dose maravilhosa de vida pulsante e de esperança. E se houver o convite, entre na brincadeira e seja feliz!

Obs. Apesar deste artigo não apresentar ligação direta com o Yoga, escolhi publicar aqui no site do CEPY por duas razões: 1) O corpo, como no Yoga, também é visto aqui como uma fonte de autoconhecimento e aprimoramento;

2) Além do meu caminho com o Yoga, possuo experiência de mais de 10 anos na área de educação com atividades de movimento e expressão corporal para crianças;

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